17 de janeiro de 2016

Between Realitys



Técnica:
Técnica mista sobre tela

Dimensões:
60 x 89,5 x 2 cm

Memória descritiva:

David Bowie compreendeu que a sua essência estava em devir e para isso se talhou. Trabalhou-se, estudou e rodeou-se atentamente de quem o poderia dotar das competências para levar a cabo uma história sem comparação até à sua despedida e certamente post mortem. Recreou-se a si e à sua música. Surpreendeu, emocionou, impôs mudança abrindo e explorando novos caminhos, fundiu influências, recreou e foi tão criticado como recreado e sabendo-o, maduro, denotou responsabilidade no caminho, alertou como quem dança. Conseguiu.
A mim ensinou-me a ouvir. Com ele aprendi que o "Let's" é tão importante quanto o "Dance", compreendi por ele desde cedo a linguagem do som, da visão em mutação. De que adaptação é sinónimo de contemporaneidade. Um mestre com que crescemos, e que, cada um à sua maneira fomos integrando intimamente na soma de inúmeras memórias. Cultura. Popular.
Também por estas razões, entre 2004 e 2016, fiz três representações da sua forma e elemento. A primeira, consta da minha primeira obra Mnemonic Odissey (Aladin Sain).


Aladin Sain | Mnemonic Odissey | 2005

 A segunda, consciente de um eventual paralelismo com um processo artístico em devir consistiu na abertura de um stencil 1/1 que teve como imagem de redenhamento a sua fotografia no verso do inlay do álbum Reality. 



Master B | Stencil | Dezembro 2005

A mesma imagem que viria a utilizar no quadro sobre o qual versa esta memória descritiva. Reality foi ouvido vezes sem conta durante os meus primeiros anos de trabalho, pela sua sonoridade rock, pela sua profundidade lírica, pelos ritmos que impunha em atelier. Na frente de fundo branco rodeado por uma amálgama de tintas, aerosol de grafismo surge Bowie numa representação da fotografia no verso. Um encontro entre fotografia e grafismo que reclama algum raciocínio relativamente à realidade em que vivia, em que vivemos. Considero que David Bowie era uma artista visual sem precedentes e em cada audição de Reality não só tinha essa confirmação como dai retirava inspiração. Naif, talvez. Uma ferramenta. Certamente foi.
No dia 10 de Janeiro de 2016 com a notícia da sua passagem fiquei sem reacção, num não lugar, estático. No dia 11 fechei-me no atelier, fumei e ouvindo-o, comecei: Tendo por base as duas imagens do inlay de Reality desenhei e pintei com o objectivo de encontrar a estética que desejei ser a sobreposição das duas realidades gráficas sobre uma tela usada, palco de muitos estudos e exercícios. Entre "Let's Dance" e "Black Star" sobre "Changes" vi surgir -Between Realitys- um tributo e a minha última representação de Bowie.
Volvidos 6 dias, no Domingo dia 17 de Janeiro levei o quadro para o Lux onde durante a memorável festa de despedida a David Bowie o expus espontaneamente até ao nascer do dia. 







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Verso





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